Auto ajuda ou auto conhecimento?
O mercado editorial tem lançado com sucesso, nos últimos anos, milhares de livros sobre autoajuda. Alguns especialistas da área creditam interesse tão grande por este tema à nossa carência afetiva e à baixa autoestima do nosso povo.
Soma-se a esta fragilidade uma eterna espera por soluções milagrosas. Ora, na sua maior parte, livros de autoajuda não passam de compilações de promessas para conquistar o paraíso, seja ele nos relacionamentos familiares ou no universo empresarial.
Servem como paliativo para muitos e, dificilmente resolvem a vida de alguém – só as dos autores e editores.
Acreditar que “lendo ou assistindo” a determinado palestrante podemos melhorar de vida e de comportamento é perder a oportunidade de nos conhecer melhor.
Modismos sobre o tema vêm e vão a todo instante, com os mais variados títulos possíveis. Já tivemos a fase do “bom relacionamento interpessoal”, do “sim, eu posso”, dos “segredos milenares”, das “relações amorosas”, dos “administradores salvadores da pátria”, dos “vendedores tipo isso ou aquilo” e, agora, estamos na fase do “quem quer ser um milionário?”.
Qualquer um pode se arvorar de guru de um assunto e publicar seu livro. Alguns viram celebridades e frequentam as páginas das revistas e os programas de TV. Faturam bem e depois somem porque o assunto se esgotou e os resultados para quem comprou os livros foram pífios.
E como o comprador de autoajuda dificilmente aprende alguma coisa, ele já fica pronto para seguir a outro mestre, se este lhe prometer novas panaceias.
Por ser o caminho mais fácil e não exigir muito de nós, preferimos seguir a trilha do autoengano.
É claro que não nascemos preparados e que fatores culturais pesam no modo de nos comportarmos perante a sociedade e o mundo do trabalho. E que livros de autoajuda também fazem sucesso nos Estados Unidos, de onde vem a maior parte deles, em geral mal escritos e pessimamente traduzidos.
O fenômeno é mundial porque o público adora ser enganado.
O que temos a ponderar é que a receita para uma vida melhor, a busca da felicidade e da liberdade, as lições para melhores relacionamentos e o caminho do sucesso estão mais nos livros de filosofia do que nos de autoajuda.
Algumas editoras, espertamente, estão pegando velhos títulos de filosofia e reeditando-os como de autoajuda.Baltasar Gracian deve estar se remexendo no túmulo.
O caminho do autoconhecimento é difícil, demorado, requer disciplina, estudos sistemáticos e compulsórios.
Seguir a trilha do autoconhecimento é obrigar-se a estudar filosofia e ter a paciência de ver e rever o mesmo assunto de formas diferentes durante meses ou até anos.
É anotar, errar, corrigir e corrigir de novo dezenas de vezes, até que o assunto estudado se incorpore em nós, isto é, passe a fazer parte do nosso corpo, da nossa maneira de ser e de agir. É ter conhecimento dos nossos defeitos e fazer esforço enorme para corrigi-los.
É descobrir o que não devemos fazer mais e saber com o que devemos ou não nos preocupar. É aprender a tolerar o outro, compreendendo e convivendo de forma harmoniosa com diferentes tipos de opiniões.
Muitos poderão me dizer: “Mas eu gosto e preciso de livros de autoajuda. Quem é você para me dizer o contrário?”
A minha resposta é: “O leitor de autoajuda é passivo, recebe a informação e não a processa. O estudante de filosofia é protagonista: participa, lê, interpreta, debate, discute, analisa, concorda ou não concorda.”
Como aluno, muitas vezes autodidata, ele é ativo na sua busca. A autoajuda, por outro lado, oferece alívio imediato, mas não cura a doença.
O autoconhecimento traz estabilidade emocional e os ensinamentos, uma vez compreendidos, serão para todo o sempre.
Em ambos os casos tenha certeza de que nunca vamos ficar inteiramente prontos. Sairemos de cena sempre devendo, para a humanidade e para nós mesmos.
Eloi Zanetti – especialista em marketing e comunicação corporativa – www.eloizanetti.com.br