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O quadro depressivo na Magistratura.

Pesquisa mostra que juízes sofrem mais de depressão e estão mais sujeitos a transtornos mentais comuns do que o normal da população, além de apresentarem maior uso de medicamentos para transtornos mentais comuns.

Pesquisa promovida pela Associação Nacional dos Juízes do Trabalho – Anamatra, sob coordenação do departamento de medicina da UFMG, mostra que juízes do trabalho sofrem mais de depressão e estão mais sujeitos a transtornos mentais comuns do que o normal da população, além de apresentarem maior uso de medicamentos para transtornos mentais comuns.

Este trabalho embora realizado para a classe de juízes do trabalho pode e deve ser aproveitada por toda a classe do judiciário, pois os problemas são os mesmos.

A pesquisa também apontou um dado alarmante: parcela de juízes que responderam a pesquisa foi afirmativo quanto à questão sobre se já haviam pensado em acabar com a própria vida.

Um juiz em depressão é tão danoso para a sociedade como um médico ou um policial sem condições psicológicas de exercerem seu trabalho.

A partir da pesquisa, medidas precisam ser tomadas, juízes deveriam passar por avaliações de saúde periódicas e por avaliações de saúde mental, constantes e feitas por profissionais capacitados.

Precisam ter acesso à assistência psicológica e a informações sobre formas de identificação e tratamento de doenças mentais, bem como ser estimulados a práticas que previnam tais transtornos, que vão muito além do simples e perigoso uso indiscriminado de medicamentos.

Existe um senso comum acerca da depressão: a primeira, ao tratar como sinônimos a depressão e a tristeza.

A depressão se relaciona aos baixos níveis de serotonina, substância necessária à atividade neuronal e a áreas do cérebro ligadas ao sentimento de bem estar.

Trata-se de doença que tem forte componente químico e de predisposição genética, todavia, o desenvolvimento da doença e dos sintomas tem como causa fatores ambientais.

A doença é de complexo diagnóstico e de tratamento que envolve inúmeras variáveis individuais.

Preconceitos envolvendo os transtornos mentais, como associar depressão a falta de força de vontade ou a mera tristeza por questões materiais e fatores unicamente externos, podem comprometer a busca por um tratamento efetivo e levar, em casos mais graves, ao suicídio.

Este problema hoje em dia está generalizado, as pessoas estão estressadas, correndo muito e com dificuldades para resolver seus problemas.

Até um tempo atrás quem estava sofrendo de um quadro depressivo não comentava com ninguém e procurava esconder e justificar seu desânimo e tristeza.

Certas pessoas achavam um estigma admitir sua doença. Hoje a situação mudou.

Personalidades conhecidas na mídia vão a publico e desabafam sobre o que Em 2001, Andrew Solomon chamou de “Demônio do meio dia, uma anatomia da depressão”.

Este livro publicado em 2001 foi baseado em uma experiência pessoal e em fundamentos esclarecedores, que o levou a ser finalista do Pulitzer.

Nesta obra Solomon traça uma anatomia crua e real do fenômeno da depressão, atribuindo vulnerabilidade em pelo menos dois terços da população.

A melancolia e o “descoloramento” do mundo, que afetam a pessoa deprimida,

Estas declarações auxiliam quem está passando por este processo, a compreender e aceitar com mais facilidade a situação e a procurar auxílio. Tira o estigma negativo da doença, pois mostra que ninguém está livre de desenvolvê-la.

Segue abaixo o depoimento de Ricardo Boechat, articulista e apresentador de jornais no rádio e na TV, conhecido nacionalmente que passou por uma fase muito difícil e achou que a admissão pública de seu problema poderia auxiliar seu público a melhor entender, aceitar e procurar auxílio para seus dissabores.

Boechat volta ao trabalho e faz alerta sobre depressão

“Pois bem, queridos amigos, o que eu tive foi um surto depressivo agudo. Minutos antes de começar o programa de rádio da quarta-feira retrasada eu simplesmente sofri um colapso, um apagão aqui no estúdio.

Nada na minha cabeça fazia sentido. Nenhum texto era compreensível. Os pensamentos não fechavam e uma pressão insuportável dava a nítida sensação de que o peito ia explodir.

Fiquei completamente desnorteado e achei melhor me refugiar no meu camarim e esperar socorro médico. Quando finalmente minha doce Veruska me levou ao doutor e eu descrevi o que estava sentindo ele foi categórico em dizer que era depressão.

Que o estado de pânico, a balbúrdia mental, a insegurança e tudo mais eram sintomas clássicos do surto depressivo.

Quem cai num quadro desses perde qualquer condição de continuar ativo, de pensar as coisas mais simples. A pessoa morre ficando viva.

E eu fiquei impressionado nestes dias com a quantidade de gente que sofre do mesmo problema. Quando contei a alguns ouvintes que me ligaram o que estava acontecendo, muitos disseram já ter passado por isso, ou conhecer alguém que ainda passa ou já passou.

O Barão me mostrou um vídeo produzido pela ONU indicando que esse fenômeno é global.

Uma amiga minha citou números da Organização Mundial da Saúde afirmando que a depressão é a doença que mais cresce no mundo.

Bruno Venditti me mandou um texto muito bom do pregador Élder Holland sobre o assunto.

Tanto o vídeo da ONU quanto esse texto deixa claro que é importante não esconder a doença, não esconder a depressão.

Não tratá-la na clandestinidade. É importante aceitá-la para combatê-la -e todo o silêncio, do próprio doente ou de quem está à sua volta, dificulta a recuperação.

Essa necessidade de não fazer segredo, além da sinceridade que faço questão de manter na relação com os ouvintes, é a razão deste depoimento pessoal.

O texto que eu li fala do “transtorno depressivo maior” lembrando que isso não significa apenas um dia ruim, ou um contratempo, ou momentos de desânimo ou ansiedade, que são coisas que todos temos normalmente.

A depressão é muito mais que isso e muito mais séria. É uma aflição tão severa que restringe a capacidade de uma pessoa funcionar plenamente, um abismo mental tão profundo que ninguém pode achar que vai se safar apenas endireitando os ombros ou pensando coisas positivas.

Não, minha gente, essa escuridão da mente e do estado de espírito é mais do que um simples desânimo.

É um desequilíbrio da química cerebral, algo tão físico quanto uma fratura óssea, ou um tumor maligno.

É um fenômeno que atinge todo mundo: quem perde um ente querido, mães jovens com depressão pós-parto, estudantes ansiosos, militares veteranos, idosos de uma maneira geral e pais preocupados com o sustento da família.

A depressão não escolhe vítimas por seu grau de instrução ou situação econômica. Castiga sem piedade e da mesma forma pobres e ricos, anônimos e famosos.

Os médicos que estão me tratando disseram que eu estiquei a corda demais, que fiz mais coisas do que deveria fazer e em menos tempo do que seria razoável.

Eu fui além dos limites que minha saúde permitia e ignorei todos os sinais físicos e avisos domésticos. Quantas vezes a minha doce Veruska me disse: “Você vai pifar! Você vai pifar!”…

O texto que eu li ensina que para prevenir a doença da depressão é preciso estar atento aos indicadores de estresse em sua própria vida.

Assim como fazemos com nosso carro, é fundamental observar a temperatura do nosso motor interno, os limites de nossa velocidade, ou o nível de combustível que temos no tanque.

Quando ocorre a “depressão por exaustão”, que foi o meu caso é preciso fazer os ajustes necessários. A fadiga é o inimigo comum e recuperar forças passa a ser uma questão de sobrevivência.

A experiência mostra que, se não reservarmos um tempo para nos sentirmos bem, sem dúvida depois teremos que dispender tempo passando mal. E foi o que aconteceu.

Mas a cura existe. Às vezes requer tratamentos demorados. Mas, como está no texto que eu li, “mentes despedaçadas também podem ser curadas, assim como corações partidos”.

Este papo de hoje foi sobre depressão. Um mal que afeta milhões de pessoas, milhares delas no Brasil, um mal sobre o qual é preciso estar informado e não fazer segredo.

Como eu agora me descobri fazendo parte dessa população doente, pensei muito nas noites sem dormir dos últimos dias e tomei a decisão de dividir essa experiência com vocês.

Se com isso eu conseguir ajudar algum ouvinte a prevenir a depressão ou a curá-la, já me dou por satisfeito.”


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