
A ansiedade está aumentando?
Em 1947, o escritor anglo-americano W. H. Auden escreveu sobre as incertezas de sua época no poema “A era da ansiedade”, que lhe rendeu um prêmio Pulitzer.
O título hoje é visto em profusão em revistas e jornais, e embora possa até ter se tornado um clichê, talvez tenhamos, de fato, chegado a esse momento.
Um dos estudos mais recentes na área, que reuniu dados epidemiológicos de 24 países, demonstra que quase 30% dos habitantes da região metropolitana de São Paulo apresentam transtornos mentais.
O trabalho faz parte da Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, iniciativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) que analisa o abuso de substâncias e distúrbios mentais e comportamentais.
Os transtornos de ansiedade foram os mais comuns, afetando 19,9% dos entrevistados.
Em fevereiro deste ano, a OMS divulgou um relatório mostrando que o número de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo era de 264 milhões em 2015, com um aumento de quase 15% em relação a 2005.
Pesam nesse cenário, dizem especialistas, fatores socioeconômicos, como pobreza e desemprego, e ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades, além do excesso de tarefas que acumulamos ao longo dos anos.
Nunca tivemos tanto acesso a informações sobre transtornos de saúde mental, estatísticas e diversos tipos de tratamento disponíveis, desde medicamentos até terapias comportamentais e meditação.
“Mas é difícil saber se estamos mais ansiosos agora, pois não havia tantos indicadores e pesquisas desse tipo no passado.
Talvez em outras épocas tivéssemos outros problemas de saúde mental. Estamos diagnosticando mais atualmente e as pessoas também estão procurando mais ajuda”, comenta Corchs.
O que fazer?
O tratamento dos transtornos de ansiedade inclui o uso de medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos, sob orientação médica.
O tratamento farmacológico geralmente precisa ser mantido por seis a 12 meses depois do desaparecimento dos sintomas e deve ser descontinuado em doses decrescentes. Entretanto, outras opções de tratamento estão surgindo.
Dr. Daniel Barros, professor colaborador do Departamento de Psiquiatria da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) e autor do livro “Pílulas de bem-estar”, revela que seus pacientes estranham quando ele sugere a meditação como tratamento coadjuvante para reduzir a ansiedade.
“Mas, doutor, como vou conseguir ficar quieto?”, é uma dúvida que ele costuma ouvir nesses casos.
Parece um pouco distante da nossa realidade considerar a meditação como alternativa para transtornos de ansiedade e ataques de pânico, mas algumas práticas, como o mindfulness (atenção plena, um tipo de meditação), já são utilizadas nos EUA e na Europa desde o final da década de 1970.
A Inglaterra inclusive já incorporou a técnica em seu prestigiado sistema público de saúde, o NICE.
Por aqui, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mantém, desde 2011, um programa de treinamento e estudos sobre o tema.
O programa se chama “Mente Aberta” e atende pacientes do SUS encaminhados via Secretaria de Saúde.
Por ali já passaram cerca de 400 pessoas. “Normalmente, são pacientes que não conseguiram resolver o problema pelo viés farmacológico e encaram o mindfulness como uma cartada final”, explica Marcelo Demarzo, coordenador do programa.
O plano terapêutico tem oito semanas de duração e os participantes se reúnem semanalmente por um período de duas horas e meia.
Para controlar a ansiedade, a pessoa precisa se concentrar no aqui e agora.
São utilizadas técnicas para aprender a ter mais consciência da própria respiração e do próprio corpo. “Quarenta e sete por cento do nosso tempo é utilizado para pensar em outras coisas, por isso é importante esse treinamento da atenção.
Antes a gente parava e descansava; hoje, paramos e mexemos no celular”, reforça Demarzo.