A solidão existencial
Nestes tempos de intensa crise social e educacional, é bom rompermos nossa velha maneira de pensar e nos abrirmos para outras possibilidades.
O que diremos sobre o paradoxo do florescimento da solidão nas sociedades intensamente adensadas?
O que diremos sobre o paradoxo do florescimento da solidão nas sociedades intensamente adensadas?
A solidão, é um fenômeno oculto, insidioso, mas muito presente. Vive-se em sociedade, mas cultiva-se a solidão de forma fértil.
Esbarramos diariamente em muitas pessoas, mas permanecemos ilhados dentro de nós mesmos.
Participamos de eventos sociais, brincamos, sorrimos, mas frequentemente estamos sós.
Falamos muito do mundo em que estamos, discorremos sobre política, economia e até sobre a vida de muitos personagens sociais, mas não falamos de nós mesmos, não trocamos experiências existenciais.
O ser moderno é solitário, isolado dentro da sua própria sociedade, um ser que sabe que tem fragilidades, inseguranças, temores, momentos de hesitação e apreensão, mas tem medo de reconhecê-los, de assumi-los e de falar sobre eles. Tem consciência da necessidade de falar de si mesmo, contudo opta pelo silêncio e faz dele seu melhor companheiro.
Como disseram, muitos vão ao psiquiatra e ao psicoterapeuta não porque estão doentes, ou pelo menos seriamente doentes, mas porque não têm ninguém para conversar abertamente sobre suas crises existenciais.
Realmente é difícil falar de nós mesmos.
O medo de falar de si mesmo não está ligado apenas aos bloqueios íntimos que as pessoas têm, em comentar suas histórias, mas também à dificuldade de encontrar alguém que tenha desenvolvido a arte de ouvir. Alguém que ouve sem prejulgar e que sabe se colocar em nosso lugar e não dar conselhos superficiais.
É mais fácil desenvolver a arte de falar do que a de ouvir.
Aprender a ouvir implica aprender a compreender o outro dentro do seu contexto histórico, a respeitar suas fragilidades, a perceber seus sentimentos mais profundos, a captar os pensamentos que as palavras não expressam.
A arte de ouvir é uma das mais ricas funções da inteligência.
Muitos não apenas desenvolvem a solidão social, a solidão de estar próximo fisicamente e, ao mesmo tempo, distante interiormente das pessoas que os cercam, mas também a solidão intrapsíquica, de abandonar-se a si mesmo, de não dialogar consigo mesmo, de não discutir os próprios problemas, dificuldades, reações.
Quem não se interioriza e não aprende a discutir com liberdade e honestidade os seus próprios conflitos, dificuldades, metas e projetos abandona-se a si mesmo na trajetória existencial.
Vivemos numa sociedade tão estranha que não achamos tempo nem para nós mesmos.
Uma pessoa que não se repensa e não dialoga consigo mesma perde os parâmetros da vida e, consequentemente, pode se tornar rígida e implacável com seus próprios erros.
Ela propõe para si mesma metas inatingíveis que a imergem numa esfera de sentimento de culpa ou, ao contrário, pode se alienar e não formular qualquer meta ou projeto social e profissional.
O ser humano tem uma necessidade intrínseca de superar a solidão em seus amplos aspectos; todavia, ele não é muito eficiente nessa superação.