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Transtorno Bipolar – a vida na montanha russa

Primeiro a angústia, o desânimo, a falta de vontade de se levantar da cama. Depois, vem a animação, extrema autoconfiança, sensação de poder, vontade de fazer mil coisas ao mesmo tempo.

A primeira impressão é que essas sensações são de duas pessoas, uma depressiva, outra eufórica.

Mas, na verdade, trata-se do mesmo homem ou mulher – alguém que sofre de transtorno bipolar de humor, doença psiquiátrica que atinge cerca de 3% da população mundial, caracterizada por oscilações abruptas de humor, com episódios de depressão e de mania (o oposto da depressão).

A doença mental está entre as dez que mais afastam os brasileiros do trabalho. Ocupa o terceiro lugar na lista, depois da depressão e da esquizofrenia, conforme levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

“O humor é o pano de fundo da nossa vida emocional”.

Normalmente, se acontecem coisas boas, as pessoas ficam alegres, se acontecer algo ruim, ficam tristes. Para quem tem transtorno bipolar, a lógica não é sempre essa.

O humor pode oscilar muito e de forma muitas vezes independente do que ocorre ao redor.Os acontecimentos influenciam de forma nem sempre previsível.

Se morrer alguém, imagina-se que a pessoa fique triste, mas o bipolar pode entrar numa crise de euforia, ficar ‘elétrico’, ou mesmo irritável e não porque não gostava da pessoa, mas porque o estresse desencadeou uma instabilidade da doença.

Por isso, o transtorno “é imprevisível”, explica Sérgio Nicastri, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).

Gangorra de sentimentos

“Não tinha ideia do que estava acontecendo comigo”. Ia trabalhar todos os dias, mas, quando o ponteiro marcava três horas, era como se fosse um relógio biológico, eu precisava largar tudo o que estivesse fazendo e sair correndo para casa. Porque era insuportável continuar.

Eu me jogava na cama e apertava o edredom contra meu peito, a sensação era que ele estava completamente aberto, sem nenhum tipo de proteção e coisas poderiam escapulir dali. Doía muito e o cobertor me dava segurança

Pouco depois, soube que isso se chamava angústia.”

Esse é um trecho do livro Não Sou Uma Só: Diário de Uma Bipolar, de Marina W. (editora Nova Fronteira).

Trata-se de uma autobiografia que traz as alegrias e as angústias dessa jornalista, que só ser bipolar depois de casada e mãe de dois filhos, segredo guardado por ela durante mais de 20 anos.

O diagnóstico tardio, inclusive, é um dos principais problemas no tratamento. Ainda é muito comum o paciente ser visto apenas como depressivo quando, na verdade, vai de um extremo a outro.

A transição abrupta entre as fases depressivas e maníacas é chamada pelos médicos de virada de humor. Os episódios de mania e depressão podem variar em dias, semanas ou até meses. “Os bipolares também têm fases de normalidade”, afirma o dr. Nicastri.


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