VITAMINA D
Um assunto que intriga profundamente são as misteriosas “doenças autoimunes”.
São cercadas de mistério porque a ciência ainda não sabe dizer como tudo começa. Mas é intrigante.
Um dia o seu sistema imunológico – aquele responsável por nos defender dos vírus, das bactérias e de qualquer agente infeccioso – começa a operar em uma espécie de “tilt”.
Nestes casos, as células de defesa ficam tão desorientadas, que entram em um combate maluco, atacando o próprio corpo e deixando sequelas em diferentes órgãos.
Esta patologia pode invadir a casa de qualquer pessoa de diferentes formas.
Isso porque – apesar de serem considerados eventos raros – este nome “doença autoimune” serve para classificar um grupo composto por mais de 100 diferentes problemas de saúde. Cem!!!!
E apesar da diversidade de sintomas e de diagnósticos envolvidos, uma vitamina tem despontado como um caminho promissor para amenizar o curso destes males misteriosos e ainda evitar que mais pessoas façam parte das estatísticas e doentes.
Fio condutor
Antes de falar sobre a tal vitamina, é preciso dizer as razões que fazem um diabético tipo 1 ser enquadrado no mesmo grupo de alguém que tem esclerose múltipla – dois exemplos de doenças autoimunes.
O “tilt” do sistema imunológico pode afetar, mais diretamente, um ou outro órgão do corpo.
Na esclerose, o órgão de choque é o cérebro.
No diabetes tipo 1, o pâncreas.
Na Doença de Crohn, o aparelho digestivo é o que denúncia o sistema imunológico em colapso.
Na artrite, são as articulações.
No Lúpus, o próprio sistema imunológico ataca as células e por aí vai…
Por isso, os sintomas são tão diversos e a identificação do problema não é tão simples.
Um fio condutor entre estes diferentes problemas é a dor, tanto a física quanto a dor psicológica.
Os sintomas doloridos marcam quem faz parte deste misterioso grupo patológico justamente porque todas estas doenças são inflamatórias, como explicou o Dr. Wanderley Pires, um dos médicos brasileiros que mais investiga o tema.
“A dor é a voz da inflamação”, diz ele.
E além das implicações e limitações físicas impostas pelos órgãos que passam a funcionar em anormalidade – as doenças autoimunes não têm cura e exigem, conforme descreve a medicina tradicional, a utilização de pesadas (e caras) medicações para o resto da vida.
Fórmula promissora
Mas alguns médicos, entre eles o Dr. Wanderley, e uma coleção de pesquisas científicas passaram a defender que uma vitamina poderia ser capaz de amenizar estes sofrimentos tão distintos.
Como doenças tão diferentes podem ser combatidas por uma “fórmula” única?
O nome desta vitamina é Vitamina D, que já ficou pop entre os cientistas do planeta todo.
Uma das hipóteses sobre sua versatilidade – que ainda permanece sobre intensa investigação com resultados cada vez mais animadores – é que esta característica seria resultante da forma como ela circula pelo corpo.
Em linhas gerais, as pesquisas mostram que – após ser metabolizada – a vitamina D cumpre seu trajeto por meio da corrente sanguínea. Neste caminho, ela faz uma espécie de baldeação em vários órgãos, ajustando e organizando as funções do sistema imunológico e combatendo – de forma extremamente eficaz – as inflamações corpóreas.
Também por este mecanismo de ação, a vitamina D já é classificada como um hormônio esteroide e suas ações regulatórias do sistema imune têm sido confirmadas pelas mais variadas universidades, incluindo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Dr. Cícero Coimbra, médico brasileiro, criador de um dos protocolos de utilização de altas doses de vitamina D para doenças autoimunes, costuma explicar que o colecalciferol (o nome científico da vitamina D) é a substância que potencializa a ação do sistema imunológico, inclusive contra infecções virais.
Na Revista Brasileira de Reumatologia, os pesquisadores atestaram que a suplementação em altas doses de vitamina D diminuiu os sintomas de artrite fazendo com que eles desaparecessem em 45% dos casos. O mesmo efeito terapêutico foi encontrado para esclerose, lúpus, diabetes e outras doenças autoimunes.
No ensaio científico “Vitamin D and autoimmunity: new etiological and therapeutic considerations” – publicado no Annals of The Rheumatic Deseases – está constatado que as doenças autoimunes respondem pela terceira causa de morte nos Estados Unidos, atrás apenas das doenças cardíacas e do câncer.
E que neste contexto, a terapia de suplementação de vitamina D têm apresentado desempenho protetor e controlador destas patologias.
Ao mesmo tempo em que os ensaios científicos dão fôlego para a vitamina D, as pesquisas também alertam que o atual estilo de vida tem resultado em uma epidemia silenciosa de deficientes desta substância.
Em média, nove em cada dez pessoas têm insuficiência de vitamina D, ainda que não tenham manifestado nenhum sintoma mais grave provocado pela ausência do nutriente.
O que faz sermos quase todos deficientes desta vitamina, é que é praticamente impossível conseguir a dosagem indicada como protetora e suficiente, via alimentação.
A fonte natural e mais efetiva é a exposição ao sol, sem proteção dos filtros solares, nos horários recomendados por 15 a 25 minutos todos os dias. Exposição neste caso significa vestindo no máximo 1 camisa e 1 shorts para homens e mulheres. Quanto maior a exposição, melhor. Mas vive-se em uma rotina em que não há tempo para a exposição solar.
O trabalho e os divertimentos, acontecem, via de regra, em ambiente fechado. Além disso, está cada vez mais consolidado que outros vilões modernos, como estresse, alimentação irregular e pesticidas, são grandes influenciadores para minguar as dosagens de vitamina D.
Caminho possível
Neste ciclo, a suplementação é a possibilidade de sanar algumas deficiências.
A dosagem, para cada pessoa, só pode ser definida pelo médico, de forma individualizada
A vitamina D e sua utilização terapêutica ainda são encarados como uma possibilidade em teste. Isso faz com que a substância precise percorrer um longo caminho, colecionar ainda mais estudos para que um dia possa ser encarada como a primeira opção da maioria dos doutores e ser legitimada pelas Associações Médicas que regulam as prescrições de drogas terapêuticas.
O fato é que os médicos já estão sendo impulsionados a, ao menos, cogitar esta terapêutica para os portadores de doenças autoimune. Em especial para aqueles que não reagem bem aos remédios tradicionais.
Mas fazem sempre uma ressalva toda vez que se fala em esperança para a saúde. Segundo eles, todo o sintoma é um convite à mudança. E nada, absolutamente nada, melhora a saúde sozinho. Nem um remédio, nem uma vitamina, nem uma cirurgia, nem uma oração.
A vitamina – qualquer uma – pode até fazer a parte dela. Mas você precisa fazer a sua.